domingo, 3 de maio de 2009



apagam-se luzes na ágora
não sei do caminho que me leva à biblioteca de Serai
não sei da fotografia de Susan ou dos bandos de corvos desolados
apagam-se luzes
foguetes reflectem-se na córnea
perfuram o cristalino a retina os tímpanos cravam-se no peito

no entanto
não sinto o cheiro da pólvora o humor dos mortos
não me fere o silvo dos detritos arrastados por vagas de pressão
não se me esmaga o arcaboiço
não ensurdeço
não sufoco
não sei o qué o pavor nem a assolação
estou faminta
nunca me saciaram a alma ou negaram refúgio
detalhe arrogante fútil e inútil
quando se apagam luzes na ágora
rui a biblioteca do palácio
não encontro a fotografia de Susam desolada nos destroços
não ouso o crocitar dos corvos
o fôlego da brisa nas tamareiras
as cordas da pandora.





Cláudia Santos Silva in "Criatura n3"

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