sábado, 9 de maio de 2009


"Não sei se pelos olhos, se pelo modo de andar, quase como quem dança, um pouco curvada para trás para realçar o busto e a cintura, se pelas faces ligeiramente encovadas, o sorriso, o riso, uma certa contracção das comissuras dos lábios. Tanto te chegas como te esquivas, estás e não estás, dás e recusas. Não sei se por tudo isto, se por algo que não se explica. Sei que quando me tocas a batida da terra coincide com a do meu próprio coração.
Um para o outro, diz Rosário, minha mãe, dizem todos, até o padre, mas esse, como já se viu, é mais do que suspeito. Às vezes ainda lá vou à confissão, nunca manda fazer penitência, nem Padre-nossos, nem Avé-Marias, nada. Nem sequer para os pecados da carne. A carne não tem pecados, diz, os pecados são da alma.
- E a penitência, Padre Júlio?
- Penitentes somos nós todos.
E mais não diz.
"

"A Terceira Rosa" - Manuel Alegre

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